sábado, 29 de setembro de 2012

Retalhos de uma História: Samia Gamal


Zainab Ibrahim Mahfuz (Samia Gamal) nasceu 1924 em Wana, uma pequena cidade egípcia. Logo após seu nascimento a família se mudou para o Cairo.
Anos depois conheceu Badia Masabni (fundadora da dança oriental moderna) e sua vida tomou outro rumo. Baadia a convidou para integrar sua companhia de dança e a trabalhar em seu cassino e deu o seu nome artístico. O convite foi aceito.
Samia é considerada uma das melhores dançarinas de Raks Sharqi, junto a Tahyeah Karyoka, com quem trabalhou e estudou no Casino da Badia. Fez-se a mais expressiva dançarina e levou a dança a um estado mais respeitável.
Depois de um tempo tornou-se uma solista respeitada, criando seu próprio estilo, um pouco mais solto. Ela logo incorporou outros elementos como o balé clássico e dança latino-americana em seu solo performático.
Samia Gamal começou a dançar com o véu quando instruída por Ivanova, sua professora de dança clássica a usá-lo para melhorar os movimentos de seu braço e foi responsável por tornar popular o uso desse instrumento. Ela também foi a primeira bailarina desempenhar sua performance de sapatos de salto alto.
Em 1949  o rei egípcio Farouk proclamou Samia Gamal “ A Bailarina Nacional do Egito”.

Samia estrelou muitos filmes, como"Ahebbek Enta (É você que eu adoro) de Ahmad Badrakha (1949), " She-devil ", " Mat Oulch 'Lehad (Diga-a para ninguém) (1952), "Un verre et une cigarro (1955)", "Vale dos Reis (1954)", "Ali Baba et les quarante voleurs" (Ali Baba e os 40 ladrões) do diretor francês Jacques Becker com o francês Fernandel também dirigido e produzido em 1954, "Houwa oua al Nessaa" de 1966.
Parou de dançar em 1972 quando estava perto dos 50 anos, mas recomeçou depois, por sugestão de um amigo, Samir Sabri. Ela tinha 60 anos e ainda se apresentava em nightclubs parando completamente em 1984. As pessoas eram maldosas com ela em cena e soltavam comentários ferinos enquanto ela se apresentava, mas nada detinha aquela mulher. Tentavam atingi-la em sua auto-estima e ela continuava dançando
Ela dizia: "Dança, dança, nada além da dança. Eu dançarei até morrer!".
Samia Gamal faleceu no dia primeiro de Dezembro de 1994, no Hospital Mirs no Cairo, aos 70 anos.
Responsável por levar a Dança do Ventre para Hollywood e Europa, é elogiada e lembrada por seu estilo charmoso e sedutor ao dançar, pela expressividade de seus olhos, bem como pelo quadril leve e solto. Até hoje ela permanece sendo uma das grandes inovadoras de dança do ventre.
Curiosidade: A dançarina Samia Gamal declarou que ela se move mais para a direção da dança ocidental do que a dança oriental nos seus filmes porque "Não há mais alterações em dança oriental. A mesma dança oriental se repete em todos os filmes, mas dança ocidental tem sempre uma grande quantidade de mudança e criatividade".


Fontes:


Por Ju Najlah

sábado, 15 de setembro de 2012

Retalhos de uma história: Badia Masabni

Badia Masabni, a madrinha da dança oriental, nasceu no Líbano (que na época era parte da Síria) e mudou-se para o Egito no início do século XX, onde estabeleceu-se. Alguns anos mais tarde, em 1926, ela abriu o primeiro music hall egípcio, no Cairo – um centro cultural da época. Badia nomeava o seu cabaré "Opera Casino" (que era o nome oficial), mas ele também era conhecido como "Badia's Casino" ou "Madame Badia's Cabaret". A boate oferecia uma variedade de entretenimento como cantores, bailarinas e comediantes. Lá estiveram atuando grandes estrelas, entre elas Naima Akef , Taheya Carioca e Sâmia Gamal, que eram treinadas pela própria Badia, tendo as duas ultimas se tornado as dançarinas mais famosas, extraordinárias, influentes e inovadoras do meio do século XX. Trabalhava com uma equipe completa composta de músicos, tais como Farid El Atrashe e Mohamed Abdul Wahab. Este cassino foi frequentado por intelectuais egípcios e pela aristocracia nacional e estrangeira da época.

O casino de Badia foi modelado de acordo com os cabarés europeus, a fim de atrair tanto o público do Oriente Médio quanto o da Europa, que visitava o Egito cada vez mais. Seu Casino começou de fato a apelar para uma variedade de públicos provenientes de todo o mundo. Foi mais do que um simples cabaré, foi a sede social mais popular do Cairo. Comediantes como o Sírio Naguib al-Rihani tiveram sua passagem no Badia's. Rihani, cujo apelido era ‘Kesh-Kesh Bey’ tornou-se marido de Badia. Foi seu único casamento e durou por longo tempo.

Durante a década de 1940 o Badia's Casino fez história mundial, no período da Segunda Guerra Mundial, quando a máquina de propaganda de Hitler achou necessário atacar Madame Badia acusando-a de ser uma traidora, uma perigosa espiã britânica e uma agente secreta. Era do conhecimento geral que o filho de Churchill e do Duque de Gloucester tinham estado no seu cassino.
Uma das maiores contribuições que ela fez a dança oriental foi inovar a dança fora das tradições de chaabi ou dança popular. Antes, por exemplo, a dançarina tinha um repertório limitado de movimentos de braço, então Badia teve a ideia de explorá-los para os lados, de elevá-los acima da cabeça, usando gestos mais fluentemente, o que mais tarde ficou conhecido como braços de serpente. Ela influenciava não só a forma como os bailarinos mexiam seus braços, mas também a forma de utilização do espaço do palco. As ghawazee e almeeh dançavam quase exclusivamente em um determinado local. Agora, as bailarinas eram obrigadas a usar todo o palco, que era maior do que o que estavam acostumadas. Badia Masabni foi pioneira na utilização de coreografias. Como o público, ao ver a bailarina de costas não podia ver perfeitamente os belos movimentos, adereços como o véu foram incorporados ao baile show. Talvez ela tenha sido inspirada por uma mostra de Isadora Duncan (1877-1927) em Paris. O véu teve mais efeito na apresentação para um público distante. Badia Massabni foi a grande responsável pela primeira fusão do ballet com a dança do ventre, dando origem ao estilo hoje conhecido no Ocidente, além de tornar clássico o uso da roupa bustiê/cinturão que também é chamado de figurino hollywoodiano. De fato, a utilização de véus e dos trajes de duas peças foram inspirados pelas produções cinematográficas Hollywoodianas, como muitos cartazes de filmes podem comprovar. Foi lá também que surgiram os primeiros grandes nomes da dança, como Samia Gamal e Tahia Carioca.

Além disso, outra grande ideia de madame Masabni foi adicionar músicos clássicos formados para a linha tradicional de riqq, derboukka e ney ou zurna. O taqsim ou improvisação musical alterou o ritmo linear do maqsoum ou baladi. Takasim foram feitas no chamado tsifteteli ou Wahda al Tawila ou de outra forma sobre os Masmoudi, uma batida baladi lenta. O ritmo tsifteteli era de fato típico, mas não egípcio Oriental – o ritmo viajou ao longo do caminho da seda da Ásia Central para a Turquia e Grécia, na época do império Otomano. Em função da velocidade mais lenta do tsifteteli, outros instrumentos poderiam estar mais presentes durante as partes de improvisação. Além da linha de percussão da orquestra se incluíam alguns violinos extras, um violoncelo, oud e acordeão. As composições tornaram-se mais complexas e os movimentos tiveram que acompanhar. Arranjos musicais alterados pela improvisação inspiraram a dançarina a fazer um show que agradou tanto o público ocidental quanto oriental. Agora, todos estes elementos juntos começaram a dar forma ao que ficou então conhecido como Raks Sharki[1]. Badia de fato mudou o cenário da dança egípcia, com a criação desse novo estilo de dança, usando coreógrafos ocidentais. Ela também introduziu um coral de 30 bailarinas.

Adorava fazer relações públicas. Certa noite, Badía vendeu o cassino, obteve um passaporte falso foi para sua terra natal, Líbano. Devia impostos ao governo egípcio. Morreu em Beirute em 1975 e o Egito todo a recorda com carinho. Com Badia formou-se toda a geração de bailarinas egípcias.



[1] O nome dança do ventre veio a partir do século IX, por viajantes franceses que assistiram aqueles estranhos movimentos de quadril das ghawazee e o descreveram em suas histórias de viagens como "danse du ventre" ou dança do ventre. Naquele tempo – antes de 1900 – esse foi o nome dado a dança, mas como temos visto, a descrição se tornou logo a limitação.



Vídeos:

Por Ju Najlah

sábado, 8 de setembro de 2012

Alongamento com Posturas de Yoga



Meu trabalho baseia-se na Hatha Yoga, principalmente no trabalho do Profº Hermógenes (precursor da Yoga no Brasil), em exercícios de alongamento, pilates de solo, unidos a vinte anos de experiência em dança e exercícios físicos, reunindo todas as passagens de centenas de alunos com suas dores, alegrias e fases de vida. 

Yoga vem da raiz sânscrita “yuj”, cujo significado é junção, união, comunhão, integração, tudo o que desejamos, o contato com Deus, com o supremo.

A prática da Yoga gera: transformação, harmonização, cura de doenças, amor e alegria, equilíbrio interior, domínio próprio, força, paz, contentamento.

“A prática do alongamento com posturas de yoga, com ênfase no relaxamento e meditação, desenvolve a coordenação, aumenta a resistência, o equilíbrio, a clareza mental, a concentração e a saúde em geral. O hatha yoga, uma  modalidade de Yoga com ênfase no esforço vigoroso e persistente, estimula a percepção do corpo. Concentrar-se no corpo traz a mente de volta para o presente. Toda vez que você vive momento presente, você larga certa quantidade de “bagagem”. Mesmo que você a retome depois, você acaba reduzindo o nível de stress com mais frequência e por períodos mais longos. Assim, o Yoga é uma prática para toda a vida, uma fantástica ferramenta de transformação.”- Christina Brown. Estar em forma de verdade significa realizar as atividades do cotidiano com destreza, agilidade e equilíbrio. Dormir bem e acordar bem, ter boa postura, mente clara, paz e alegria interior.

É necessário praticar, vivenciar, experimentar, permitir-se, investir para colher os resultdos. Yoga é um a filosofia de vida, com várias vertentes, dentre as quais podemos buscar a que melhor nos atende.

Praticar Yoga é aprender o caminho de volta para si mesmo.
Relaxar no ser que somos implica em dedicar um tempo a sai, recuperando a essência doser, no meio do turbilhão do cotidiano:

Capitalismo = Seres estressados = desequilíbrio mental, espiritual, físico e emocional = Doenças

 É impressionante o descaso das pessoas com seu próprio ser. Na área física (saúde), emocional e espiritual. Cuidar de nossa saúde deveria ser uma prioridade. O mundo  atual inverteu nossas preocupações.O corpo como templo do espírito deve ser honrado.

A Yoga afeta diretamente o sistema nervoso e endócrino,vitalizando as vísceras, estimulando os sentidos e é um método natural de rejuvenescimento e repouso, emagrecimento sadio,embelezamento da figura, resistência às moléstias e estafa. Gera serenidade,autoconfiança, equilíbrio emocional, tranqüilidade, clareza mental, resistência à fadiga, tolerância e paciência substituem a ansiedade, fobias, conflitos e comportamentos neuróticos.

Em uma sequência de mudanças nos hábitos, a alimentação fica mais natural, e as atitudes mais nobres, trazendo transformação do caráter de uma maneira geral.


Prof.ª Tânia Fernandes é Técnica em Atividades Físicas (UNESA - CREF 7266/RJ), Bacharel em Letras (F.F.S.D), Massoterapeuta (SENAC), Acadêmica em Nutrição (Dietas e Dietoterapia) (FUNIBER), com experiência em Spas, Dança e terapias corporais  desde 1991.É Coordenadora de Lazer e Spa do Hotel Bucsky –Nova Friburgo – RJ spatanianefis@hotmail.com (22) 8828 1718
ATUA NO STUDIO TEI RUA PASTOR MAYER 31 PAISSANDÚ N.F.







segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Entrevista: Melinda James

"Além de professores maravilhosos, quando se chega no Egito tudo é estudo!"

DVNF: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória na dança do ventre?
MJ: Comecei a dançar sem pretensão alguma de me tornar profissional, a dança veio de mansinho e se tornou tão vital quanto o ar que eu respiro.
Fiz a prova do Sindicato no ano 2000 me tornando profissional registrada e logo depois, em 2002, fiz a prova da casa de Chá onde obtive o padrão de qualidade que era tão raro no Rio naquela época.
Em 2004 trabalhei com o Clube Sírio e Libanês, dirigindo a parte artística e montando os Shows que aconteciam no clube. Devido a isso eu tive muito contato com a colônia árabe do Rio. Neste mesmo ano montei o grupo Al Qamar e em 2004 também fui convidada para me tornar uma das organizadoras do “Festival Lumina” (foi o nome do primeiro Festival organizado pela Luciana Midlej e Adriana Almeida) e assim nasceu o primeiro “Lumina-Qamar”. Esta parceria felizmente deu certo e já estamos no IX festival.
A parceria deu tão certo que em 2006 realizamos o sonho de montar nossa própria escola de dança. Um espaço de arte! Nós queríamos um lugar que abrigasse diversos tipos de arte, saúde e bem estar, e surgiu assim nosso “Espaço Mosaico”.

DVNF: Quais foram os professores que mais marcaram o seu aprendizado e por quê?
MJ: Minha principal professora foi a Soraia (Soraia Zaied).
Em um período que o Rio de Janeiro era muito pobre de informação a Soraia aceitou vir pro Rio semanalmente, de ônibus, para dar aula para as professoras daqui. Soraia acreditava que tínhamos potencial e que só precisávamos de alguém que quisesse nos ensinar. E ela fez isso, chegava cada semana com mais informações e com aquela dança tão atual e impactante. Nesta época eu quase desisti! Já dava aulas e tive que reconhecer que havia aprendido tudo errado e recomeçar.
É difícil recomeçar quando você já é uma professora, mas eu não queria que minhas alunas passassem pelo que eu passei. Um dia reuni todas as alunas e falei claramente:
Sei que vocês acreditam em mim e sei também que quero muito ensinar vocês
mas eu estou com problemas: Eu aprendi errado e tenho que recomeçar!
Vocês são livres para escolher: eu posso encaminhar vocês para outra professora que eu considere séria ou vocês podem ficar comigo enquanto eu reformulo minha didática.
Isso faz 13 anos e todas permaneceram comigo.

DVNF: Quais as suas inspirações na dança?
MJ: A Dina é incrível, sabe que é boa, é uma rainha no palco, além de ser uma bailarina extremamente inteligente, desde sua consciência corporal até suas escolhas como profissional.
Soraia é um fenômeno, uma artista completa.
Mahmoud Reda e Farida Farmy, nós devemos tanto a eles, ao trabalho sério que desempenharam com a dança oriental no mundo.
As lindas estrelas do Egito, Fifi Abdo, Souheir Zacki, Naima Akef entre todas as antigas, cada uma com seu estilo que nos contam a história da nossa dança atual.
Gamal Seif, meu professor mais exigente. Gamal chega à perfeição, não tenho palavras para falar dele...
Tantos nomes atuais e antigos que me motivam e me inspiram, cada um em estilos diferentes de dança: Mo Gedawy, Momo Caduce, Hassaan Saber, Mona Garib, Aza Sharif, Kareya Maazim, Mohamed Shain, Raqia Rassan, nossa!!! Não me faltam nomes motivadores, pessoas que estudo constantemente.
Tenho também muuuitas bailarinas brasileiras que me motivam diariamente, tantas amigas e alunas, pessoas que me inspiram, mas se eu começar a citar aqui não conseguirei terminar em tempo e temo esquecer de alguém. rs

DVNF: Você realiza frequentemente viagens ao Egito. O que te fez sentir a necessidade dessas viagens e como elas contribuem para seu aprendizado e crescimento?
MJ: Além de professores maravilhosos, quando se chega no Egito tudo é estudo!
Os aromas locais, os sons, a reza que ecoa por todos os lados, as comidas, os temperos, os diferentes povos que dividem aquela terra e os povos que já se foram mas que deixaram marcas em todos os lugares, o comportamento do povo, o clima, o Nilo que é a vida do Cairo e a poeira, até mesmo a poeira!!!

DVNF: Você tem se dedicado a estudar o folclore egípcio e este é também o tema do curso que está ministrando aqui em Friburgo. O que você considera importante para um estudo de qualidade a respeito desse tema?
MJ: Eu acho muitas coisas importantes, folclore se estuda na fonte.
Tem que ir lá, conhecer os costumes, comer da comida deles, observar, buscar professores que conviveram muito com determinados povos e entender sua visão artística. É importante saber discernir entre a visão do artista e os verdadeiros costumes locais.
Mas a coisa mais importante para mim é a honestidade. Precisamos aprender a falar “não sei” e não desistir nunca de saber. É muito complicado mesmo e quanto mais se busca mais se complica, nunca aprenderemos dança árabe com receitas de bolo, não existe esta fórmula, mas se formos honestos, tudo fica mais fácil.
Muito do que complica no nosso atual panorama são as pessoas que com pouco estudo fazem apostilas, escrevem livros, criam blogs e dissertam sobre coisas sem ter ideia do que estão falando. Estas informações  rodam na Net levando informações truncadas, incompletas e equivocadas por todo o mundo.

DVNF: Como você avalia que seja a Melinda James aluna? Como você se observa enquanto tal?
MJ: Acredito que existem dois tipos de aluno: aquela que tem facilidade e aquela que tem esforço, eu sou uma aluna de esforço e me orgulho disso.
Eu já passei muitas fases como aluna. Hoje sou disciplinada, respeito muito quem me ensina, quem se dedica a me ensinar, tento conseguir entender o que a pessoa me diz e não tentar impor o que aprendi. Talvez ele fale o que eu já sei com outras palavras, talvez completamente diferente mas ela está ali para me ensinar a sua visão e não para aprender a minha. Busco o que cada professor tem de melhor para me ensinar.

DVNF: Quando você decidiu se profissionalizar, o que motivou essa escolha e como você trabalhou para conquistar isso?
MJ: Eu fiz faculdade de Administração e trabalhava na área quando comecei a dar minha primeira turma, sábado as 9:00.
As coisas foram acontecendo e quando percebi eu já dava aula todo dia a noite, não tinha tempo para estudar dança, nem montar minhas aulas. Sabia que eu não tinha o mesmo rendimento das minhas amigas que viviam da dança e notei que precisava fazer uma opção. Percebi que a dança nos pede muito, dedicação total e que eu queria isso para a minha vida.
Me casei com a dança e com todas as suas consequências. É exatamente como um casamento! Quando sua paixão se torna rotina, não é fácil.
Lembro quando eu larguei a Administração... Meu trabalho era muito tenso, eu me estressava muito, me dedicava muito. Achei que com a dança eu seria mais light, mais calma e mais feliz...
Este último foi uma verdade mas descobri que todo o stress era “meu” e que trabalhar com a dança não é diferente do que trabalhar com qualquer outra coisa, quando você tem obrigação de fazer e o pior, “obrigação de criar”. Tive meses de criar 15 coreografias em um mês! Não é fácil mas nunca me arrependi da minha escolha!

DVNF: Em 2002 você conquistou o padrão de qualidade Khan El Khalili. Após 10 anos, como você avalia essa conquista e o que percebe de mais positivo nela?
MJ: Positivo? Sim, concluir um objetivo é sempre muito bom. Mudou minha vida? Não, meu caminho seria o mesmo sem isso. Estudar com um objetivo é muito bom, nos faz crescer.
Como o próprio nome diz é um “padrão que qualidade” eu acredito hoje em “qualidade sem padrão” acredito em “Personalidade”. Há alguns anos me dedico a perseguir meu estilo pessoal e não acho tão interessante hoje fazer parte de um padrão. Todas minhas grandes musas egípcias não se enquadram neste padrão e, partindo disso, ele se tornou desinteressante para mim.

DVNF: Quais as dicas você daria para aquelas que desejam se profissionalizar em dança? O que é importante buscar?
MJ: Estudem, estudem muito, sempre. Invistam nisso! Só isso garantirá uma dança de qualidade.
Além disso é muito importante construir um meio saudável, você é responsável pelo meio que convive. Você constrói o seu meio e escolhe o tipo de pessoa que quer ser, assim como escolhe as pessoas que caminham ao seu lado! As amigas da arte serão as melhores amigas da sua vida se você souber agir com ética, amor e humildade.
Só alcançamos nossos talentos quando nos sentimos plenas e seguras para crescer e por isto um ambiente saudável é muito importante.

DVNF: Há algo que você considere prejudicial ao cenário da dança atual?
MJ: Não sei bem, o cenário da dança atual está muito confuso. Vejo algumas profissionais lutando por um lugar ao sol, não entendo bem... Uma profissional não paga para dançar, uma profissional não trabalha de graça, também não negocia parcerias e convites de show, os alunos não são uma moeda de troca para você inscrevê-los e poder dançar. Uma profissional mesmo não precisa disto.
Ser profissional não significa somente que você dança bem, significa que você é tão boa que se sustenta com este trabalho.

DVNF: E algo prejudicial ao desenvolvimento individual durante o aprendizado da dança? O que seria?
MJ: Sim, professores muito ansiosos gerando uma leva de estudantes ansiosas. Isso me preocupa porque um aluno sem básico está fadado a uma dança mal acabada, principalmente alunos talentosos. Quem começa, precisa começar do início, isso é um direito do aluno.

DVNF: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
MJ: Nossa! Muitas! Costumo dizer que o caminho da dança é um caminho iniciático, onde você trabalha diretamente com beleza, amor e ego. Aprendi tanto, acho que me tornei uma pessoa melhor. Frustrações? Guardo elas com carinho, mas somente as que me fizeram crescer.

DVNF: Você, em sociedade com Luciana Midlej e Adriana Almeida, é proprietária de uma espaço que é referência no país, o Espaço Mosaico. Como foi o momento de criação desse espaço e o processo para que ele tivesse o destaque que tem hoje?
MJ: Falei acima um resumo de como nossa sociedade começou, só tenho a acrescentar que sou muito feliz de ter Luciana Midlej e Adriana Almeida como minhas sócias! Admiro e respeito as duas. Sei que tenho ao meu lado pessoas criativas e capazes.
 Eu não teria criado o Mosaico se não fosse a Lú. Ela acreditou desde o início! Luciana tem muitas ideias, ideias boas, ela não para um segundo. Adriana é muito boa em viabilizar os métodos, é organizada e se assegura sempre de que as coisas correrão da forma esperada.
O Espaço Mosaico foi a construção de um sonho e vivemos ele todos os dias. Nós 3 e nossa grande equipe.

DVNF: Em 2004 você criou o grupo Al Qamar, somente com bailarinas profissionais. Um grupo de muita qualidade, que sempre apresenta danças lindíssimas! Como surgiu a ideia desse grupo e como foi possível colocá-la em prática?
MJ: Grupo Al Qamar, minhas amigas, minhas companheiras de jornada! Dentro deste grupo criamos juntas e este processo de criação sempre foi delicioso.
Sim, é um trabalho de qualidade, desenvolvido com suor e lágrimas, mas hoje não acredito no termo profissional, partindo do pressuposto que não conseguimos remunerar ensaios nem pagar cachê em todos os shows. Infelizmente viver de arte é muito difícil. Acredito que somos irmãs de arte! E que trabalhamos com a maior seriedade possível, visando beleza, harmonia e qualidade.

DVNF: E sobre o Lumina Qamar, um dos maiores festivais de dança do país. Qual foi a motivação para a criação de um festival englobando concurso e mostra de dança e trazendo sempre grandes profissionais?
MJ: O Lumina dá muuuuuito trabalho mas vale cada segundo de tempo! Um evento organizado, pontual. Um dia inteiro para respirar dança! Esta é a nossa proposta inicial! E ela acontece com sucesso há nove anos.
Ver todas as escolas do Rio participando, reunidas em um único evento, é incrível!!!

DVNF: Suas alunas e suas coreografias sempre se destacam em concursos, com a conquista das melhores colocações em diversos deles. Como você vê esses concursos de dança e quais os aspectos positivos e negativos deles?
MJ: Acho ótimo competir, assim podemos mostrar nosso trabalho e ainda ter uma avaliação escrita sobre ele.
Não vejo nada negativo, quando sinto que minhas alunas não estão preparadas para perder penso que também não estão preparadas para ganhar e não as inscrevo.
Vale ressaltar que considero meu trabalho honesto e que sou bastante exigente com elas, mas tenho pessoas muito talentosas junto comigo! São tantos talentos em minha sala de aula que me sinto muito honrada em poder fazer parte do processo de crescimento de cada uma delas.

DVNF: Conte-nos sobre um momento inesquecível. Qual foi a sua melhor experiência?
MJ: São tantos!
Dançar grávida da minha filha foi um prazer muito grande, dançar no Egito também, cada Show de alunas (faço um por ano) é uma emoção enorme! Não consigo eleger um único.

DVNF: Quais seus projetos para o futuro?
MJ: Aprender e Ensinar, é isso que eu quero fazer, por muuuuuito tempo.


Por Ju Najlah

Vídeos:

sábado, 1 de setembro de 2012

Dança do Ventre, retalhos de uma história


Falar sobre a origem da Dança do Ventre requer muitos cuidados. As diversas teorias que abordam esse tema são duvidosas, já que carecem de documentação histórica. Ou seja, não há registros que falem a respeito da origem.

Dentre as diversas hipóteses, a mais difundida diz que a Dança do Ventre surgiu no Antigo Egito, em rituais nos quais as mulheres dançavam em reverência a deusas, sendo muito citada a deusa Ísis. Com movimentos ondulatórios e batidos de quadril, as mulheres reverenciavam a fertilidade, celebravam a vida. Alguns autores citam a origem desta dança entre 8.000 e 5.000 AC.

Outra teoria defende a ideia de que a Dança do Ventre tem suas raízes na Índia e que de lá foi difundida pelos ciganos que a divulgaram no Ocidente.

“Também acredita-se que a dança existiu como forma de arte nas cortes tanto sob o Império Romano quanto mais tarde no Império Otomano (Turquia). Durante esta época, imagina-se que a dança possa ter se espalhado por todo o mundo árabe.”(SABONGI, J)

Em meio a tantas suposições fica a seguinte questão: qual seria a necessidade e a utilidade de se buscar a origem da dança do Ventre? Como esse conhecimento poderia interferir na forma como lidamos hoje com essa arte?

Há pessoas que voltadas para esse entendimento religioso da Dança do Ventre, de culto a deusa mãe, dão a essa dança um cunho místico, misturando a arte a uma religião que não mais existe, dando a ela uma outra conotação. É errado? Não. É uma escolha. Tendo-a feito é importante ter consciência de que se está trazendo uma cultura de outra época e local para o aqui e agora e que essa relação com a dança não é assim tão clara. Não passa de uma hipótese. Mas muitos fazem essa escolha de trabalhar, a partir da dança, outros aspectos da vida.

Assim como a música, a dança é algo que faz parte do cotidiano das pessoas, se não em todas, em grande parte das culturas, sendo difícil traçar origens em casos de danças populares antigas. É simplesmente uma manifestação de um povo, dos sentimentos de um povo, da sua constituição, da sua história. É forma de expressão! Sendo assim, vai sofrendo mudanças ao longo do tempo. Recebe influências socio-histórico-culturais. Não é estática! Por esse motivo e por se tratar de uma tradição não escrita, muitas vezes, acabamos tendo acesso a dança atual e a sua história mais recente.

Para quem busca a dança enquanto manifestação artística e que busca ser fiel a representação de um povo, seria mais interessante buscar conhecer a cultura atual, o povo árabe e a dança do último século em diante.
Se não é possível conhecer pessoalmente os países árabes e seu povo, busque literaturas, busque filmes que lhe possibilitem certo contato, que lhe permitam saber como é a vida daquele povo, o comportamento, o andar, o falar... Tudo isso é importante!

E no que diz respeito a história, conhecer bailarinas de 1900 até os dias de hoje já nos dá grande bagagem para entendermos a dança atual. Quais os fatores a fizeram chegar a tais moldes, quem e o que a influenciou, como certos passos e instrumentos (musicais e da própria dança, como o véu) foram incorporados... Por isso convido-as a um estudo dos grandes artistas que fizeram parte dessa história! Será uma belíssima viagem! A cada mês traremos uma parte deste estudo!

Até logo!
Ju Najlah

Fontes:
http://www.centraldancadoventre.com.br/historia-no-mundo